sábado, 13 de fevereiro de 2010

Texto: Literatura e noticia ( ZIRALDO)


Realmente a coisa está preta. Dei uma olhada na lista dos livros de ficção mais vendidos do O Globo e entre os dez mais não figura sequer um brasileiro. Tudoblockbuster americano.

Será que os autores brasileiros modernos não conseguem mais contar histórias que comovam e envolvam o leitor? Será que ninguém, entre nós, escreve aqueles livros que a gente não consegue parar de ler nem comendo? Não tem mais, entre nós, gente contando história boa de ler? Estou achando que nossos contadores de história em potencial foram para a televisão ganhar dinheiro e os autores que nos restam querem é fazer livros destinados à Grande Literatura, que ninguém lê. É verdade que elas dão prêmios(!), elogios e um pouquinho de resenha, mas grande cobertura é difícil. No Prosa e Verso de sábado 6 de fevereiro, por exemplo, a grande entrevista é com o escritor americano William Kennedy, premiado pelo Pulitzer, autor de 18 livros de Grande Literatura que nunca entraram numa lista dos mais vendidos no Brasil. Que importância ele tem para nós, colonizados eternos?

Acho importante ir a Albany, nos Estados Unidos, visitar o William, o cara é bom mesmo, tudo que ele disse na entrevista tem tudo a ver conosco, tudo a ver com o que estamos produzindo, com o que estamos lendo (sem ponto de ironia). Outra matéria de destaque é com Tomás Martínez, importante escritor argentino (os suplementos literários da imprensa argentina, praticamente, só cuidam de literatura argentina), falecido recentemente.

Mas, voltemos ao Prosa e Verso. Mais um destaque na página. Ali está Meg Cabot, para nós, uma recente descoberta americana quase tão importante quanto a da Thalita Rebouças, numa alentada nota com foto. Estou vindo de trás para diante e na página 3, descubro que a página inteira é sobre John Fante. Vocês sabem quem ele é? Estão interessado em todas as informações sobre ele?

Oba! Na página 2 há uma matéria de interesse para nós: um grande artigo sobre um autor negro – helás! – chamado Dany Laferrière. Haitiano, tudo bem. A matéria principal da edição de sábado é, exatamente, sobre a literatura do país que a natureza insiste em destruir, competindo com os seres humanos que o habitam. Vamos precisar de alguma tragédia – nova! – aqui pra que nossa literatura atual tenha alguma importância para nossa imprensa especializada

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